Durante centenas de anos,
o açúcar foi considerado uma especiaria rara e valiosa. Apenas nos palácios
reais e nas casas nobres era possível consumir açúcar que, vendido nos
boticários (as farmácias da época), atingia preços altíssimos, sendo acessível
apenas aos mais poderosos.
Com o descobrimento da
América, a cana-de-açúcar encontrou solos férteis e climas mais adequados para
se desenvolver no novo continente e, em pouco tempo, o açúcar produzido (no
início sob condições pouco desenvolvidas, mas sempre de forma crescente) passou
a ser uma mercadoria acessível a todas as camadas sociais.
Com o crescimento da
produção, o consumo excessivo de açúcar tornou-se uma questão de Saúde Pública
Mundial. A sociedade atual consome o açúcar abusivamente, com alto grau de
pureza e sem a presença de fibras.
No Brasil, de acordo com a
Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), em 1930, o consumo de
açúcar era de 15 kg/ano por habitante. Na década de 1990, subiu para 50 kg.
Hoje, o consumo médio estimado é de 56 kg/ano por habitante. O brasileiro
consome cinco vezes a quantidade de açúcar recomendada por dia.
É importante lembrar que
esse consumo vai muito além do açúcar que se coloca no café ou no suco;
sobretudo, em produtos industrializados, como bolos, biscoitos, bolachas,
sorvetes, balas, sucos, refrigerantes e bebidas energéticas. O açúcar é
adicionado até em alimentos salgados, como sopas enlatadas, ketchup, molhos em
geral e torradas. Uma embalagem pequena de suco contém, em média, de 3 a 6
colheres (sopa) de açúcar.
A consequência desse abuso
pode ser observada no aumento progressivo dos índices de: Sobrepeso/obesidade,
Diabetes, Hipertensão e Doenças Cardiovasculares, na população mundial e
nacional, nos últimos anos.
IMPACTO DO CONSUMO DE
AÇÚCAR PARA O CÉREBRO
A Ciência comprovou que o
consumo sistemático de açúcar leva à compulsão por guloseimas e à Síndrome de
Abstinência, em uma dependência química semelhante à de outras drogas, como
tabaco, álcool, heroína, morfina e cocaína. Inclusive a forma de extrair tais
drogas da natureza é similar, Isto é, o princípio ativo de uma planta é
transformado em um pó fino e branco que dá energia e prazer... e VICIA!!!
O consumo excessivo dessas
drogas leva o organismo a elevar a produção de serotonina (neurotransmissor
responsável pela sensação de bem estar) e de dopamina (neurotransmissor
responsável pela sensação de prazer) que estão envolvidos no Sistema Cerebral
de Motivação e Recompensa, controlador do “querer e gostar de alguma coisa”.
Por isso, o açúcar é um poderoso estimulante do apetite e do ganho de peso.
Entre os principais
Sintomas de Abstinência, sentidos por aqueles que tentam eliminar o açúcar da
dieta, estão: dor de cabeça, cansaço, desânimo, alteração do sono e do humor,
irritação, nervosismo, falta de concentração, depressão e hiperfagia (vontade
de comer demais: compulsivamente).
O QUE ACONTECE NO
ORGANISMO APÓS INGERIR AÇÚCAR
1. É importante saber que,
ao ingerir doces, o açúcar entra na corrente sanguínea, elevando os níveis de
glicose (glicemia) e estimulando o Pâncreas a produzir e liberar o Hormônio
Insulina, o qual irá coordenar a conversão dessa glicose em energia;
2. Contudo, a absorção do
açúcar pelo sangue é extremamente rápida, o que leva a um aumento exagerado da
glicemia, com grande pico na produção de Insulina, e imenso impacto para o
organismo;
3. A glicose em excesso se
transforma em gordura e a alta dose de insulina estimula a lipogênese (produção
de gordura), na região abdominal;
4. O excesso de Insulina
(hiperinsulinemia) leva o organismo a resistir à atuação desse hormônio
(Resistência à Ação da Insulina), o que torna o corpo propenso a desenvolver o
Diabetes Mellitus;
5. A Hiperinsulinemia,
também, desequilibra os hormônios da fome (Grelina), e da saciedade (Leptina)
causando Compulsão Alimentar e uma vontade irresistível de comer, cada vez
mais, doces e guloseimas, em detrimento de alimentos saudáveis.
IMPACTO DO EXCESSO DE
AÇÚCAR PARA O ORGANISMO
Quando consumido
regularmente e em grande quantidade, o açúcar deflagra uma série de reações
bioquímicas nocivas ao corpo, dentre estas:
1. Disbiose: diminuição
das bactérias benéficas e aumento das bactérias patogênicas da flora
intestinal, o que vai gerar uma deficiência de nutrientes para o corpo e
dificultar o funcionamento adequado das células, resultando em um "Grande
Desejo por Comer Doce”;
2. Diminuição da
capacidade do organismo para digerir as moléculas dos alimentos e para absorver
os nutrientes de forma adequada, o que leva ao enfraquecimento dos mecanismos
de defesa do corpo: “baixa imunidade”;
3. Inflamação Crônica
(inflamação de baixo grau, porém constante, difícil de ser detectada sem exames
de sangue) que gera: dores de cabeça´(enxaqueca), febres “inexplicáveis”,
fibromialgia (dores musculares generalizadas), artrite (dores nas
articulações), cansaço crônico, celulite, insônia, envelhecimento precoce do
organismo e outros distúrbios;
4. Glicação de proteínas:
quando o excesso de açúcar presente no sangue se liga às proteínas dos vasos
sanguíneos. Esse processo causa a deterioração do sistema cardiovascular do
corpo e leva ao desenvolvimento de diversas doenças crônicas degenerativas
(aquelas que não têm cura e, se não forem “controladas” levam à destruição do
organismo e à morte do corpo), tais como envelhecimento precoce, Depressão,
Diabetes avançado (cegueira, amputações, isquemias, neuropatias, etc.),
Hipertensão Arterial, Doenças do Coração, Insuficiência Renal, Acidentes
Vasculares Cerebrais (derrames e isquemias) e Demências (Vascular e Mal de
Alzheimer).
CONCLUSÃO
É preciso desmistificar a
ideia de que o açúcar é apenas um causador de cáries dentárias, diabetes ou
obesidade, para entender que o consumo indiscriminado desse “mau carboidrato” é
um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento dos piores males que afligem a
sociedade moderna.
O excesso de açúcar na
dieta está diretamente ligado ao surgimento de inflamações internas geradoras
de diversos sintomas que “minam a qualidade de vida” das pessoas (celulite,
falta de energia, fadiga crônica, enxaquecas, insônia, asma, bronquite,
infecções, diarreias, depressão etc.) e de processos degenerativos causadores
das “doenças modernas”.
Cientistas americanos
sugerem que o consumo de produtos adoçados sofra restrições semelhantes às
impostas ao consumo de álcool e tabaco. Na minha opinião, é preciso informar
quanto aos malefícios do mau uso e conscientizar para que o excesso seja
combatido e evitado. A humanidade deve voltar às origens e reduzir radicalmente
os doces do cardápio. Eliminar o açúcar da dieta não é fácil, mas pode-se
reduzir bastante a sua ingestão.
DICAS PARA EVITAR O
CONSUMO EXCESSIVO DO AÇÚCAR:
1. Evitar alimentos
industrializados - em especial os produtos de panificação (biscoitos, bolos,
bolachas, etc.) e os doces em geral;
2. Ingerir bastante água -
porque o cérebro confunde a desidratação (falta de água) com sensação de fome;
3. Ingerir maior
quantidade de proteínas – especialmente leguminosas, carnes brancas e ovos que
podem garantir saciedade por maior tempo e ajudam a resistir à vontade de comer
um docinho;
4. Estar atento ao uso de
adoçantes – algumas pessoas acreditam que, por usarem adoçante, podem abusar no
consumo de outros alimentos, e: quem ingere adoçante não educa o paladar,
continua viciado no sabor doce e sempre que houver oportunidade, irá ceder ao
chocolate e outros "beliscos";
5. É sempre importante
“experimentar” o café ou o alimento antes de colocar adoçantes, para fazer com
que o paladar vá se acostumando ao verdadeiro sabor dos alimentos. Isso poderá
tornar dispensável o uso de qualquer produto adoçante e “não viciar o
organismo” ao sabor doce;
6. Estar atento ao uso de
açúcar orgânico, açúcar demerara, açúcar mascavo, mel ou melado - lembrar que,
apesar de estes conterem vitaminas e minerais, se consumidos em excesso, geram
no organismo, os mesmos efeitos maléficos que o açúcar comum;
7. Abrir mão de doces,
pães, massas e guloseimas por três semanas - readapta o paladar e diminui a
compulsão;
8. Resistir ao impulso de
"beliscar" – evita a compulsão e o vício;
9. Evitar consumir doces
como sobremesa - devem estar associados a momentos de festa e a ocasiões
especiais. No dia a dia, a sobremesa deve ser uma fruta ácida como abacaxi,
maçã, ameixa, etc.;
10. Evitar que crianças
consumam alimentos adoçados antes dos dois anos de vida - o açúcar modula o
paladar humano: quanto mais tarde for apresentado às crianças, melhor será;
11. Introduzir alimentos
ricos em nutrientes produtores de serotonina, entre os quais: cereais
integrais, frutas oleaginosas, vegetais e peixes como sardinha, atum e salmão
(ricos em ômega 3: o principal alimento para o cérebro). Isso irá garantir ao
cérebro a sensação de Prazer e Bem-estar, libertando os indivíduos daquela
sensação de ”eu necessito de doce”.
Maria das Graças Teixeira
Química e Nutricionista
Clínica Funcional
Diretora da MGT
Nutri
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