sábado, 10 de outubro de 2015

Impacto do açúcar em nosso organismo

Durante centenas de anos, o açúcar foi considerado uma especiaria rara e valiosa. Apenas nos palácios reais e nas casas nobres era possível consumir açúcar que, vendido nos boticários (as farmácias da época), atingia preços altíssimos, sendo acessível apenas aos mais poderosos.
Com o descobrimento da América, a cana-de-açúcar encontrou solos férteis e climas mais adequados para se desenvolver no novo continente e, em pouco tempo, o açúcar produzido (no início sob condições pouco desenvolvidas, mas sempre de forma crescente) passou a ser uma mercadoria acessível a todas as camadas sociais.
Com o crescimento da produção, o consumo excessivo de açúcar tornou-se uma questão de Saúde Pública Mundial. A sociedade atual consome o açúcar abusivamente, com alto grau de pureza e sem a presença de fibras.
No Brasil, de acordo com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), em 1930, o consumo de açúcar era de 15 kg/ano por habitante. Na década de 1990, subiu para 50 kg. Hoje, o consumo médio estimado é de 56 kg/ano por habitante. O brasileiro consome cinco vezes a quantidade de açúcar recomendada por dia.
É importante lembrar que esse consumo vai muito além do açúcar que se coloca no café ou no suco; sobretudo, em produtos industrializados, como bolos, biscoitos, bolachas, sorvetes, balas, sucos, refrigerantes e bebidas energéticas. O açúcar é adicionado até em alimentos salgados, como sopas enlatadas, ketchup, molhos em geral e torradas. Uma embalagem pequena de suco contém, em média, de 3 a 6 colheres (sopa) de açúcar.
A consequência desse abuso pode ser observada no aumento progressivo dos índices de: Sobrepeso/obesidade, Diabetes, Hipertensão e Doenças Cardiovasculares, na população mundial e nacional, nos últimos anos.
IMPACTO DO CONSUMO DE AÇÚCAR PARA O CÉREBRO
A Ciência comprovou que o consumo sistemático de açúcar leva à compulsão por guloseimas e à Síndrome de Abstinência, em uma dependência química semelhante à de outras drogas, como tabaco, álcool, heroína, morfina e cocaína. Inclusive a forma de extrair tais drogas da natureza é similar, Isto é, o princípio ativo de uma planta é transformado em um pó fino e branco que dá energia e prazer... e VICIA!!!
O consumo excessivo dessas drogas leva o organismo a elevar a produção de serotonina (neurotransmissor responsável pela sensação de bem estar) e de dopamina (neurotransmissor responsável pela sensação de prazer) que estão envolvidos no Sistema Cerebral de Motivação e Recompensa, controlador do “querer e gostar de alguma coisa”. Por isso, o açúcar é um poderoso estimulante do apetite e do ganho de peso.
Entre os principais Sintomas de Abstinência, sentidos por aqueles que tentam eliminar o açúcar da dieta, estão: dor de cabeça, cansaço, desânimo, alteração do sono e do humor, irritação, nervosismo, falta de concentração, depressão e hiperfagia (vontade de comer demais: compulsivamente).

O QUE ACONTECE NO ORGANISMO APÓS INGERIR AÇÚCAR

1. É importante saber que, ao ingerir doces, o açúcar entra na corrente sanguínea, elevando os níveis de glicose (glicemia) e estimulando o Pâncreas a produzir e liberar o Hormônio Insulina, o qual irá coordenar a conversão dessa glicose em energia;
2. Contudo, a absorção do açúcar pelo sangue é extremamente rápida, o que leva a um aumento exagerado da glicemia, com grande pico na produção de Insulina, e imenso impacto para o organismo;
3. A glicose em excesso se transforma em gordura e a alta dose de insulina estimula a lipogênese (produção de gordura), na região abdominal;
4. O excesso de Insulina (hiperinsulinemia) leva o organismo a resistir à atuação desse hormônio (Resistência à Ação da Insulina), o que torna o corpo propenso a desenvolver o Diabetes Mellitus;
5. A Hiperinsulinemia, também, desequilibra os hormônios da fome (Grelina), e da saciedade (Leptina) causando Compulsão Alimentar e uma vontade irresistível de comer, cada vez mais, doces e guloseimas, em detrimento de alimentos saudáveis.

IMPACTO DO EXCESSO DE AÇÚCAR PARA O ORGANISMO

Quando consumido regularmente e em grande quantidade, o açúcar deflagra uma série de reações bioquímicas nocivas ao corpo, dentre estas:
1. Disbiose: diminuição das bactérias benéficas e aumento das bactérias patogênicas da flora intestinal, o que vai gerar uma deficiência de nutrientes para o corpo e dificultar o funcionamento adequado das células, resultando em um "Grande Desejo por Comer Doce”;
2. Diminuição da capacidade do organismo para digerir as moléculas dos alimentos e para absorver os nutrientes de forma adequada, o que leva ao enfraquecimento dos mecanismos de defesa do corpo: “baixa imunidade”;
3. Inflamação Crônica (inflamação de baixo grau, porém constante, difícil de ser detectada sem exames de sangue) que gera: dores de cabeça´(enxaqueca), febres “inexplicáveis”, fibromialgia (dores musculares generalizadas), artrite (dores nas articulações), cansaço crônico, celulite, insônia, envelhecimento precoce do organismo e outros distúrbios;
4. Glicação de proteínas: quando o excesso de açúcar presente no sangue se liga às proteínas dos vasos sanguíneos. Esse processo causa a deterioração do sistema cardiovascular do corpo e leva ao desenvolvimento de diversas doenças crônicas degenerativas (aquelas que não têm cura e, se não forem “controladas” levam à destruição do organismo e à morte do corpo), tais como envelhecimento precoce, Depressão, Diabetes avançado (cegueira, amputações, isquemias, neuropatias, etc.), Hipertensão Arterial, Doenças do Coração, Insuficiência Renal, Acidentes Vasculares Cerebrais (derrames e isquemias) e Demências (Vascular e Mal de Alzheimer).

CONCLUSÃO

É preciso desmistificar a ideia de que o açúcar é apenas um causador de cáries dentárias, diabetes ou obesidade, para entender que o consumo indiscriminado desse “mau carboidrato” é um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento dos piores males que afligem a sociedade moderna.
O excesso de açúcar na dieta está diretamente ligado ao surgimento de inflamações internas geradoras de diversos sintomas que “minam a qualidade de vida” das pessoas (celulite, falta de energia, fadiga crônica, enxaquecas, insônia, asma, bronquite, infecções, diarreias, depressão etc.) e de processos degenerativos causadores das “doenças modernas”.
Cientistas americanos sugerem que o consumo de produtos adoçados sofra restrições semelhantes às impostas ao consumo de álcool e tabaco. Na minha opinião, é preciso informar quanto aos malefícios do mau uso e conscientizar para que o excesso seja combatido e evitado. A humanidade deve voltar às origens e reduzir radicalmente os doces do cardápio. Eliminar o açúcar da dieta não é fácil, mas pode-se reduzir bastante a sua ingestão.

DICAS PARA EVITAR O CONSUMO EXCESSIVO DO AÇÚCAR:

1. Evitar alimentos industrializados - em especial os produtos de panificação (biscoitos, bolos, bolachas, etc.) e os doces em geral;
2. Ingerir bastante água - porque o cérebro confunde a desidratação (falta de água) com sensação de fome;
3. Ingerir maior quantidade de proteínas – especialmente leguminosas, carnes brancas e ovos que podem garantir saciedade por maior tempo e ajudam a resistir à vontade de comer um docinho;
4. Estar atento ao uso de adoçantes – algumas pessoas acreditam que, por usarem adoçante, podem abusar no consumo de outros alimentos, e: quem ingere adoçante não educa o paladar, continua viciado no sabor doce e sempre que houver oportunidade, irá ceder ao chocolate e outros "beliscos";
5. É sempre importante “experimentar” o café ou o alimento antes de colocar adoçantes, para fazer com que o paladar vá se acostumando ao verdadeiro sabor dos alimentos. Isso poderá tornar dispensável o uso de qualquer produto adoçante e “não viciar o organismo” ao sabor doce;
6. Estar atento ao uso de açúcar orgânico, açúcar demerara, açúcar mascavo, mel ou melado - lembrar que, apesar de estes conterem vitaminas e minerais, se consumidos em excesso, geram no organismo, os mesmos efeitos maléficos que o açúcar comum;
7. Abrir mão de doces, pães, massas e guloseimas por três semanas - readapta o paladar e diminui a compulsão;
8. Resistir ao impulso de "beliscar" – evita a compulsão e o vício;
9. Evitar consumir doces como sobremesa - devem estar associados a momentos de festa e a ocasiões especiais. No dia a dia, a sobremesa deve ser uma fruta ácida como abacaxi, maçã, ameixa, etc.;
10. Evitar que crianças consumam alimentos adoçados antes dos dois anos de vida - o açúcar modula o paladar humano: quanto mais tarde for apresentado às crianças, melhor será;
11. Introduzir alimentos ricos em nutrientes produtores de serotonina, entre os quais: cereais integrais, frutas oleaginosas, vegetais e peixes como sardinha, atum e salmão (ricos em ômega 3: o principal alimento para o cérebro). Isso irá garantir ao cérebro a sensação de Prazer e Bem-estar, libertando os indivíduos daquela sensação de ”eu necessito de doce”.
Maria das Graças Teixeira
Química e Nutricionista Clínica Funcional
Diretora da MGT Nutri

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